quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pardal: o xodó do Flor da Mata


Uma tarde, ao tomar chá em uma das mesas da Confeitaria “Flor da Mata”, na SCL 307 Norte, um pardal entrou e pousou no espaldar de uma cadeira ao lado. Não apresentava receio ou sobressalto. Sabia que podia estar ali. Ficou esperando pacientemente. Depois de encará-lo e tentar entender o que se passava pus à mesa três pedaços de esfirra. Ele avaliou, pegou o pedaço maior e se foi. Dali a pouco voltou e pegou outro e depois o último. Dois dias depois voltei ao local no mesmo horário. Sentei-me a mesma mesa. Logo após, ele chegou e novamente pousou em uma cadeira ao lado e ficou aguardando como se eu já devesse saber dos costumes. Resolvi inovar oferecendo-lhe um pedaço de pão na ponta dos dedos. Ele não se fez de rogado; bicou firmemente, voou e levou o alimento para fora, presumidamente em direção ao ninho.
Quem aprecia um chá, café ou outras delicias acompanhado por bolo, pão de queijo, esfirra, brevidade, broa de milho, quiche, brioche ou outros quitutes encontra uma variedade de casas distribuídas pela cidade. Algumas são tão antigas que se confundem com a própria historia de Brasília. Há também franquias espalhadas por toda a cidade.

O ““Flor da Mata”, ambiente tão bucólico como o nome da casa, inclui-se entre aqueles com propostas para nichos específicos e que se aproxima ao paladar mineiro. Broas, biscoitos de queijo, brevidades e outros apreciados principalmente pelos povos das Minas Gerais. Lá, entre os habitués do local há um com origem provável de Brasília. Ele e a família são clientes há pelo menos três anos. Freqüentam diariamente e são bem recebidos e tratados com deferência não só pelo pessoal da casa como pelos freqüentadores. Trata-se de um pardal, que apresenta uma pena com um corte e sua companheira, um pouco menor, que diariamente recebem as honras e atenções de todos.

No inicio do relacionamento destes pássaros com o estabelecimento, eles eram ressabiados, ariscos e temerosos. Com o passar do tempo já transitavam entre os fregueses, com desenvoltura. Como eram bem tratados, suspeita-se que tenham chamado todos os amigos para conviverem ali. Dos muitos pardais que se aproximaram, somente este casal permaneceu quando foram afugentados. Todos eles se foram, exceto o nosso personagem e a sua companheira, que se apropriaram como donos do pedaço.

O café da manhã já é servido em companhia dos pardais que são os primeiros a entrar na loja em busca de alimentos. Eles ficam ali a esperar as pessoas habituais e conhecidas que lhes dão comida. Em certas ocasiões, em especial quando o recolhido é pouco, eles se atrevem a buscar os bolos que estão fora dos balcões para esfriar. Se estes não estiverem cobertos por um filó eles tentarão tirar sua parte. Mas a situação mais premente se dá toda segunda-feira. Como a casa fecha aos domingos, no dia seguinte quando as portas são abertas eles entram em alta velocidade. O funcionário até já se acostumou a se abaixar para desviar dos vôos rasantes sobre a sua cabeça. Durante o almoço eles não aparecem. Não se sabe se por causa do tipo de comida ou pela agitação. Entretanto, durante as tardes, quando a casa está cheia, eles entram sem constrangimento e circulam entre os comensais tranquilamente. Parece que é caso de preferência pelos quitutes ou questão de horário de trabalho.

Os pardais estão no Brasil há pelo menos cem anos. São encontrados no campo e na cidade. Estão de Norte a Sul. Vivem cerca de trinta anos. Foram introduzidos para o combate a endemias, pois consomem insetos além de sementes. Eles são oriundos do Oriente Médio e teriam surgido há mais de dois milhões de anos.