quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Boca de Lobo, Roçagem e Poda



Ouvi um barulho conhecido. Não pude identificá-lo. Soava fora de contexto. Fui à janela e vi uma roçadeira mecanizada a levantar poeira. Ela passava de um lado para o outro a procurar um raminho mais alto, que atingisse a altura de sua lâmina, mas não encontrou nada, nem uma graminha mais alta, tudo estava e continua esturricado, queimado pelo sol e pela secura do ar de Brasília.


Vi no Setor Indústria e Abastecimento - SIA, também, um homem com uma daquelas roçadeiras portáteis, que têm uma cinta para apoiar no ombro, que funcionam a gasolina. Aquele homem também procurava, inutilmente, algo para cortar com seu fio rotativo. Ali, como na Superquadra, toda a vegetação estava quase preta de tão queimada.

Li uma noticia dando conta de que a Novacap estava promovendo, no SIA, a Operação Cidade Limpa. Essa operação tem por objetivo, segundo a publicação, serviços como roçagem, poda de árvores, limpeza de valas, desobstrução de bocas-de-lobo, pintura de meios-fios, entre outros. A operação deslocou 250 homens para tal tarefa.

Pelo que pude notar, essa mesma Operação havia sido empreendida em Taguatinga, no mês de junho, a propósito do aniversário daquela cidade. Trata-se de uma intervenção de recuperação sob vários aspectos. Lâmpadas danificadas, buracos nas ruas, meios-fios danificados e outros são reparados.

Era de se esperar que tais recuperações não fossem caracterizadas como “obras”, eventos de bondade da administração pública que ocorrem quando o local é sorteado. Esses serviços, como tapa-buraco na via, devem ser feitos imediatamente após a sua ocorrência, pois a permanência do buraco pode provocar acidente, danos materiais e desconforto aos usuários das vias.

A operação de limpeza com desobstrução das bocas-de-lobo deveria ocorrer em todo o Distrito Federal antes das primeiras chuvas. Dentro de, mais tardar, um mês choverá e as galerias que não forem limpas poderão ter suas tubulações obstruídas. Deve-se limpar não apenas as bocas-de-lobo, mas também as galerias de águas pluviais, pois estas são contínuas às bocas-de-lobo e quase sempre ficam obstruídas com parte do lixo carreado para elas.

Nas podas de árvores promovidas pela Novacap estão mutilando o patrimônio tão importante para a nossa cidade. É recomendável a poda em alguma situações: quando o galho ou mesmo a árvore como um todo põe em risco as pessoas ou bens; quando o galho interfere com a circulação de pessoas ou veículos; quando parte da árvore está doente, seca, e pode vir a cair. Fora estes casos não é recomendável a poda.

Já não há o que podar nas nossas árvores. É quase impossível encontrar uma árvore que não tenha perdido parte de sua copa. Ao perder parte da copa ela reduz a sua capacidade de absorver o calor solar e transformar aquele calor em folhas e lenho. Esse processo é que melhora o conforto térmico onde há grande presença de vegetação. As árvores têm perdido as suas formas decorrentes de suas variedades. Estão ficando todas com um único aspecto: um tronco retorcido que se estica em direção ao céu, todo marcado pelas cicatrizes deixadas pelo corte dos galhos e uma copa pequena no topo.

Essa Operação Cidade Limpa, com todo esse contingente faria bem à cidade se deixassem em paz as árvores e os pássaros que nelas habitam. Não há segurança de que naqueles galhos mais altos ou em qualquer outro haja verificação da existência de ninhos de pássaros. Eles cortam de baixo, utilizando ferramentas longas que dispensam subir nas árvores.

Também seria melhor não tentar cortar a grama neste momento. Não há o que roçar. Melhor encaminhar esse pessoal da roçagem e da poda das árvores para a limpeza das bocas-de-lobo, pois se alguma permanecer entupida isso provocará inundação.

Tem-se a impressão de que há um contrato de poda e outro de roçagem e que as empresas terceirizadas saem às ruas para apresentarem serviço e receberem as faturas correspondentes. Não encontro outra explicação plausível para tal comportamento absurdo.