quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Touring é da Cultura como Brasília é de Lucio Costa



Imagine a animação de Seu Chico com a proximidade da data de inauguração de Brasília. Admirador incondicional da obra do Presidente Juscelino ele iria à inauguração de Brasília em seu DKV Vemag (Das Kleine Wunder - "a pequena maravilha"), novinho em folha, fabricado no Brasil. Faria a viagem de Belo Horizonte a Brasília em apenas um dia pela nova estrada recém-inaugurada. Seu Chico estava tranqüilo, pois teria a proteção do Touring Club do Brasil que lhe garantiria assistência em todo o território Nacional. Dada sua importância o governo deu ao Touring, em 1963, um terreno na área central de Brasília. O prédio foi construído com projeto de Oscar Niemeyer e está situado em frente ao Setor de Diversões Sul com a mesma importância geográfica do Teatro Nacional, que está em frente ao Setor de Diversões Norte.

O Touring perdeu prestigio e em 2005 o prédio foi vendido em leilão pela União Federal para uma empresa. Estava deteriorado e invadido. O edificio foi recuperado em mutirão e o governo local se comprometeu a instalar ali atividades culturais. Infelizmente, após aquele evento, causaram impacto algumas reportagens em que foram mostradas cenas de prostituição infantil na Plataforma Superior da Rodoviária. O próprio presidente do Supremo Tribunal Federal manifestou publicamente sua indignação com o fato. O governo local respondeu com a criação do Núcleo de Ação Integrada sediando no espaço do antigo Touring vários órgão de segurança, em especial as policias civil e militar.

O governo dispõe de muitas áreas na Rodoviária. Alias, já mantém ali postos policiais que poderiam, uma vez redimensionados, responder ao problema de forma mais apropriada, pois colocaria os executores das políticas de repressão à prostituição junto à população que transita pela Rodoviária. No prédio do Touring, onde estão os policiais o serviço fica distanciado do problema.

A vocação do prédio do Touring é cultural e não administrativa, tal qual foi definido por Lucio Costa que afirma no Relatório do Plano Piloto, Item 10, cinco últimas linhas:

“Previram-se ... duas amplas praças privativas de pedestres, uma fronteira ao teatro da ópera e outra, simètricamente disposta, em frente a um pavilhão de pouca altura debruçado sôbre os jardins do setor cultural e destinado a restaurante, bar e casa de chá”.

Para atender o disposto por Lucio Costa, o espaço superior poderia conter serviço de orientação aos turistas, cafeteria, casa de chá e/ou restaurante. Poderia abrigar, ainda, as diversas organizações culturais que não tem sede. Ali elas teriam uma caixa postal, um arquivo próprio, uma sala para reuniões e debates, um escritório comum. Tudo isto em torno de uma sala de estar que propiciasse os encontros e bate-papos. Os amplos espaços inferiores, beneficiados pelo pé-direito duplo, poderiam abrigar salas de teatro de bom tamanho e salas de exposição. Há espaço para tanto. As antigas oficinas mecânicas, poderiam ser transformadas em oficinas de produção de artes e artesanato. Esse Touring, com certeza, deixaria orgulhoso Seu Chico, que via em Brasília uma cidade dos brasileiros e não apenas dos que aqui vivem.