sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Esplanada não Permite Monumentos nem Barracas


Foto: Fábio Mota/AE

O projeto de Oscar Niemeyer, Memorial dos Presidentes, foi motivo de recente debate em Brasília, o que transformou a cidade em palco de discussão que envolveu pessoas de todas as profissões, moradoras de todas as localidades, especialistas, jornais, televisão, rádio e internet. Debate apaixonado, como tem acontecido com assuntos que envolvem a cidade.

O projeto do arquiteto previa a construção, na Esplanada dos Ministérios, de uma grande praça de concreto, com estacionamento subterrâneo para três mil veículos, contendo na superfície um edifício curvo, o Memorial, oposto a uma torre de mais de cem metros de altura - Monumento ao Cinqüentenário. O projeto foi rejeitado apesar do anúncio de que o governo local teria se disposto a construí-lo. Entre outras razões, a rejeição ocorreu sob o argumento de que o Monumento iria interferir na paisagem tombada, em especial na vista do Congresso Nacional para aquelas pessoas que estivessem na Plataforma da Rodoviária, ou outro local situado nas cotas acima.

Curiosamente tornaram-se rotineiras as construções na Esplanada para receber diferentes eventos. Quem passa por lá percebe que no espaço onde o arquiteto Oscar Niemeyer propôs aquele monumento há sempre algo construído. Ora para um show, uma manifestação, uma exposição etc.

Recentemente aquele espaço foi ocupado por várias barracas de plástico branco, algumas baixas, outras mais altas, circulares, retangulares, enfim, de varias formas. Em frente à Catedral vê-se um palco de formato retangular e à sua volta postes de concreto com luminária que em nada combinam com o local. Em redor destas construções os gramados foram transformados em pistas e estacionamentos e estão totalmente danificados.



Espera-se que os gramados e as calçadas sejam recuperados, mas ao colocar ali os veículos, atitude que vem sendo sempre evitada, causa a preocupação de que isso possa se tornar um hábito e que os condutores se sintam encorajados a transformar a Esplanada em um grande estacionamento a céu aberto. Seria o fim daquela área gramada, monumental, que compõe o conjunto formado pela vias, os edifícios e o gramado central.

Permitiu-se que a Esplanada fosse transformada em Feira Permanente, com sucessivos eventos, que são substituídos imediatamente por outros. Por esta razão pode-se dizer que a paisagem foi comprometida no ano em curso. Impossível fazer uma foto do Congresso sem que aquelas barracas não estejam presentes. Também tornou-se impossível ver o gramado central composto, pois sempre está ocupado ou em recuperação.

Estas exposições e eventos, embora bem vindos, poderiam ficar entre o Teatro Nacional e o Ministério da Indústria e Comércio. Aquele espaço, uma vez nivelado, tem área suficiente para receber os eventos que têm ocorrido nas proximidades. Sua localização tem as mesmas qualidades das áreas que vem sendo utilizadas com a virtude de não interferir na paisagem ou nos equipamentos da Esplanada.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Está terminando a temporada de cantoria das cigarras




Esta semana as cigarras cantaram com toda força! Até parece que estão se despedindo de sua temporada de cantoria. Quando vieram as primeiras chuvas elas pareciam tímidas. Algumas aqui, outras ali. Agora é aquele contínuo siiiiii siiiiiiiii siiiiiiii, canto sincronizado, que se inicia com o vibrar de uma delas e que vai se encorpando com a adesão de outras até que soem uníssonas, ritmadas, em intervalos regulares.

A história mais conhecida da cigarra é aquela contada pelo fabulista francês, La Fontaine, em que ela é uma cantora preguiçosa, que no inverno iria morrer de frio por não acumular alimentos no verão. Diz a fábula que por não trabalhar e viver a cantar ela dependeria da generosidade da amiga formiga para não morrer de fome e frio.

A verdade é que a cigarra nasce nas folhas das árvores, resultado do ovo posto pela mãe, certamente depois de um festival de cantoria e muita "azaração". E se enterra no solo, ainda larva. Ela desce até encontrar uma raiz apetitosa, isto é, com seiva suficiente para alimentá-la durante toda sua vida subterrânea. Nesta fase ela mede apenas 2,2 milímetros, mas com as patas dianteiras ela cava a terra, comprime parte do solo contra o peito e constrói uma galeria vertical onde ela viverá até perto da fase adulta, que se completa quando sai do solo.

Já no solo, depois de um tempo ela troca sua pele ou casca (exoesqueleto). Isto acontece quando ela alcançar aproximadamente 4 milímetros. Aquela roupa já não a cabe mais. Começa aí o seu segundo instar, período entre as trocas de cascas. Ela a troca novamente quando chegar a 8 milímetros de comprimento. A terceira troca ocorre com 15 milímetros, a quarta com 25 milímetros. Nesta fase ela adquire a cor amarelada.

Então a cigarra sobe para o tronco da árvore. Isto depois de 4 a 14 anos vivendo nas galerias semelhante às formigas cupins e outros insetos. O período de vida no subsolo varia de uma espécie para outra. Ao subir ela toma a cor escura característica e terá asas transparentes que permitirão seu deslocamento de uma árvore para outra.

Lá irá “cantar” fazendo vibrar partes de seu exoesqueleto abdominal. Seu som pode alcançar 120 decibéis e pode ser agudo o suficiente para não ser ouvido por humanos. Os cães que podem ouvir sons mais agudos se incomodam com aquele canto quando este excede aos limites do conforto.

Quem canta é o macho. Canta para acasalar. Essa fase da vida adulta das cigarras dura de dois a três meses. Eles acasalam, as fêmeas põem os ovos e as cigarras adultas, machos e fêmeas, morrem. Daí surge mais uma lenda. Segundo o entendimento corrente as cigarras cantam até estourar e morrer. Na verdade aquela casca é a ultima troca de “roupa”, o passaporte para a vida adulta.

Os insetos sempre foram vistos como inoportunos, indesejáveis ou desnecessários. Todavia, cada vez mais, desenvolve-se a consciência de que todos os seres vivos fazem parte do mesmo ecossistema e que, ainda que não saibamos qual, cada um tem uma função definida no conjunto de seres que habitam a terra.

A cigarra não é preguiçosa, não estoura de cantar e tem uma função de, para alguns, anunciar firmemente a primavera. Longe de querer incomodar, a cigarra canta para alegrar a natureza. Ela vibra para conceber uma nova geração da sua espécie. Viva a cigarra! Viva a natureza!