terça-feira, 2 de novembro de 2010

Esperança Renovada


Foto Maithe Souza

Passadas as eleições as esperanças se renovam. Foi um ano péssimo para o Distrito Federal. A crise institucional que se abateu sobre nós ficará como uma cicatriz que nos marcará por muito tempo. Havíamos nos acomodado de tal forma que, mesmo com fortes indícios de que o Governo não estava bem, preferíamos fechar os olhos e, como que parafraseando o palhaço, pensávamos: pior não fica. Mas ficou e, passado o susto, é hora de pensarmos o futuro.


Difícil dizer por onde começar. Tudo é prioridade. A saúde está um caos, Os transportes públicos não atendem as necessidades, a segurança deixa a desejar, as escolas funcionam a base de professores temporários, a questão do lixo está relegada ao lançamento dos materiais a céu aberto, as obras iniciadas estão inacabadas, as entidades de assistência, conveniadas com o governo, não recebem os repasses, não há políticas de geração de emprego e renda etc.

Creio que no primeiro momento é desejável que se arrume a casa. Reorganizar a administração eliminando as estruturas desnecessárias. Afastar da gestão da coisa pública todos aqueles que se viram de alguma forma participando dos esquemas de má gestão e desvio de recursos públicos. É fundamental que a população recobre a confiança na administração. Os servidores também esperam que os maus gestores sejam afastados e que não paire dúvida quanto o propósito de restaurar a moralidade.

A nova equipe de governo deverá avaliar com cautela as disponibilidades econômico financeiras de modo a poder estabelecer objetivos e metas que possam ser cumpridos. Não é hora de promessas, é hora estabelecer as prioridades e os prazos que se pretende atende-las. Muitos compromissos foram feitos durante a campanha, muitos implicam em dispêndio orçamentário, mas muitos, como a implantação da coleta seletiva de lixo, só dependem de vontade política, e isso mostrará a diferença da forma de governar. Esperamos muito do governo eleito, principalmente compromisso com a ética.

Pássaros e Cigarras



Enquanto durou a seca as cigarras deixaram de nos brindar com seu som característico. No inicio da Primavera, no final de setembro, não agüentando mais a espera, algumas poucas enfrentaram a terra endurecida pela seca e deram as caras. Com o inicio das chuvas elas apareceram. Apareceram mas não parece que no mesmo número daqueles anos em quem as chuvas se iniciam em meados de setembro. A título de especulação cogito que o menor número – também uma especulação – resulte da luta contra o solo ressequido.


As cigarras são parte importante do ecossistema e parte da cadeia alimentar de vários pássaros. As cigarras não contêm compostos nocivos aos predadores e possuem poucos comportamentos anti-predação. Seus principais predadores são as aves, os répteis, pequenos mamíferos e artrópodes (aranhas entre outros).

Estudo feito por Camila Aoki e Frederico Santos Lopes com o título: Padrões de Emergência e Mortalidade em Quesada Gigas (Hemíptera: Cicadídae) em Área Urbana, localizado no campus da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul concluiu que as causas de mortalidade das cigarras naquele espaço físico são a predação com índice de 69%, a senescência (velhice) com 29% e outras causas naturais com 6%.

Os números de mortalidade por predação mostram a importância das cigarras na cadeia alimentar. Lá os principais predadores são o Sabiá - Poca (turdus amaurochalinus, Sabiá-laranjeira (turdus rufiventris), João-de-barro (furnarius rufus), Anu-branco (guira) e o Anu-preto (crotophaga ani)

Em verdade não encontrei estudos relativos às cigarras e sua importância para os pássaros no Distrito Federal. Entretanto, levando em conta os estudos acima e o elevado número de pássaros na área urbana de Brasília é de se supor que os nossos pássaros se alimentem das cigarras assim como os de outras localidades. Aqueles que gostam da companhia dos pássaros devem aprender a conviver também com as cigarras

Reciclagem do lixo versus Incineração



Ao final do primeiro turno da campanha eleitoral no Distrito Federal, um grupo de ambientalistas distribuía um panfleto na Rodoviária do Plano Piloto, denunciando que o Governo local estaria promovendo um financiamento de 500 milhões de dólares para incinerar todo o lixo do Distrito Federal.
O Governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, segundo noticias publicadas por vários veículos, viajou à Amsterdam, na Holanda, para visitar uma usina de geração de energia movida a lixo. Segundo informes divulgados, 1.1 tonelada de lixo sólido geraria 43 Mw/h. O lixão seria trocado por geração de energia.

Jornais de diversas capitais, tais como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e São Paulo, publicaram, no período de julho a setembro, matérias sobre o assunto, falando das vantagens de utilizar o lixo para gerar energia. As matérias têm o mesmo teor. A exceção fica por conta do Rio de Janeiro onde um pesquisador de um Instituto de pesquisa (Coope) aparece legitimando os dados de geração de energia.

Os ambientalistas de Pernambuco pela Associação Permanente de Defesa da Natureza reagiram ao projeto com um extenso manifesto. Eles entendem que : “A Incineração é a solução de tratamento de resíduos sólidos mais cara existente no mundo, além de poluir o ar é também responsável pela emissão de dioxinas e furanos, as mais agressivas já existentes na natureza”.

Faz pouco tempo, o Governo do Distrito Federal estava fazendo edital para implantação de um lixão ao final de Samambaia. Aquele lixão era posto como a única solução. Agora a solução é o incinerador. Na opinião dos donos de empresas exploradoras do lixo em Brasília, o incinerador geraria energia na potência de várias usinas no padrão de Corumbá IV.

O certo é que o lixo reciclado dá renda a inúmeras famílias de catadores de material reciclável. Uma vasta indústria de reciclagem utiliza os materiais coletados. O Brasil é campeão de reciclagem, processo que reduz impacto na natureza. Ao término do governo não é o melhor momento para tratar de projeto tão polemico.

Superbactéria e Saúde Pública



A saúde no Distrito Federal sempre teve condições diferenciadas que permitiriam ser modelo de atendimento para o Brasil. A União sempre repassou os recursos necessários para a construção dos edifícios, para a compra de equipamentos, de medicamentos e para o pagamento dos servidores.


Lá nos primórdios, havia uma política de distribuição geográfica dos equipamentos, dos postos de saúde e dos hospitais locais, mantendo no topo o “Hospital Distrital”, hoje denominado Hospital de Base. Além desses havia os hospitais especializados como o Hospital materno-infantil, o hospital psiquiátrico, entre outros específicos.

Depois Brasília teve outras experiências como o programa “Saúde em Casa”. com o qual esperava-se reduzir a freqüência das pessoas nos pontos de atendimento. Faria o acompanhamento aos possíveis pacientes, em especial às gestantes, às crianças, aos idosos e àqueles que demandassem maior atenção em suas casas. Permitiria evitar o aparecimento de doenças ou o agravamento de quadros já conhecidos, reduzindo custos e evitando a pressão sobre os ambulatórios e emergências.

O quadro de ineficiência e a insatisfação com o atendimento dos serviços de saúde vêm se agravando, a ponto de termos tido como Secretário de Saúde um engenheiro e depois um economista. Nada disto melhorou o atendimento à população. Até um hospital público com gestão privada temos, e nele também as mazelas do atendimento são as mesmas apontadas nos hospitais de gestão pública.

Os prédios sempre estão em péssimas condições de conservação, os equipamentos sempre estão quebrados, as denúncias de desvios de medicamentos e utensílios são freqüentes. Agora aparece a superbactéria. Aparece apenas nos hospitais públicos. A indefinição de um modelo de atendimento de saúde, a convivência, lado a lado, do atendimento público e do privado parece inibir a oferta de serviços de qualidade, afinal os médicos são os mesmos nos dois serviços.

Espaço Urbano e o Aspecto da Cidade



Assim como na casa de cada um de nós, nas escolas, lojas, hotéis ou qualquer outro ambiente, a harmonia, a adequação, a qualidade e a conservação dos pisos, paredes, móveis, utensílios e elementos de decoração criam aquela sensação de conforto.


É de se esperar que no espaço urbano ocorra o mesmo. O mobiliário urbano composto por placas de sinalização, postes de iluminação, bancos etc. somado ao tratamento das ruas e calçadas, a cobertura vegetal com gramados e plantas ornamentais, a arborização compõem o espaço urbano a ser vivenciado por aqueles que circulam, passam ou trabalham.

Quanto melhor equipado e conservado o espaço urbano, maior a boa impressão e o conforto daqueles que nele convivem. Essa qualidade é reconhecida facilmente e em certos casos dão notoriedade ao logradouro. As calçadas na orla da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, com suas ondas formadas em pedra portuguesa são reconhecidas de imediato por sua beleza e adequação ao local e ao uso.

Nossos espaços de uso público, em sua maioria, não foram objeto, até então, de preocupação de quem de direito. Em um mesmo logradouro podemos encontrar até três tipos de lixeiras, de diferentes materiais e cores e quase sempre sem conservação que permita seu uso. Assim ocorre com os demais equipamentos.

Chamo a atenção para as superfícies. Elas deveriam ser revestidas por asfalto, calçamento, gramado ou outras gramíneas e arbustos floríferos de pequeno porte. Sabe-se que os solos de Brasília são na sua maioria compostos de argila arenosa, propensos a emissão de poeira quando expostos ao sol e a lama quando molhados. Daí a necessidade de mantê-las cobertas.

Não é o que ocorre. Em muitos locais o costume de cortar caminho leva o transeunte a pisar nos gramados e canteiros, matando-os e tornando nua a terra. Em outros casos são as calçadas quebradas ou a sua falta que levam as pessoas a circularem sobre a cobertura vegetal danificando-a.

Essas observações levam à necessidade da constante manutenção dos espaços urbanos, com limpeza e recuperação das partes sujas, mal cuidadas ou danificadas, assim como ocorre em nossas casas.

Uma prática em especial chama a minha atenção. As calçadas são lançadas sobre o solo preparado com uma leve compactação de um fino aterro aplicado sobre o terreno natural. Após a compactação são fixadas formas laterais e juntas de dilatação e então lançada a argamassa de cimento geralmente com a espessura de cinco centímetros.

As calçadas assim feitas teriam a resistência suficiente para suportar o peso das pessoas as quais se destinam. Ocorre que as calçadas suportam constantemente o peso de roçadeiras, carros e caminhões que correta ou incorretamente passam sobre elas. Essa prática provoca sua quebra e a necessidade de sua reconstrução de tempos em tempos. Caso seja inevitável o trafego de veículos sobre as calçadas, melhor seria construí-las com maior resistência de modo aumentar a sua sobrevida e evitar os acidentes aos pedestres que por elas circulam.

A reconstrução, ou implantação de calçadas em áreas já urbanizadas tem mostrado que a contratação daqueles serviços não prevê a reparação dos gramados ou jardins preexistentes. Em geral ao término das obras sobram restos de argamassa pontas de madeira, buracos, terra solta, enfim, uma desarrumação incômoda. A recuperação do canteiro de obras deveria constar do edital de licitação e do contrato de execução dos serviços. Essa manutenção faria uma cidade limpa, agradável e bela.