quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Brasília Modelar e o Lixão




Os pioneiros hão de lembrar-se da usina de tratamento de lixo que havia ali na Avenida das Nações, entre a Estação de tratamento de Esgotos e a Unieuro. Era um brinco. A mais nova tecnologia, importada da França tinha uma esteira lançadora que devia separar os resíduos sólidos, passiveis de reciclagem, e os orgânicos que, tratados, seriam destinados à agricultura como adubo.


Depois veio a Usina de Tratamento da Ceilândia. Já não era uma tecnologia com propósitos tão avançados. Mas tinha esteiras onde as cooperativas retiravam os materiais recicláveis e o resíduo orgânico também era destinado à agricultura.

A partir daí, neste período negro de perda de racionalidade no governo, vivemos a era do “Lixão da Estrutural” com todos os problemas sociais decorrentes da presença de famílias inteiras vivendo da disputa do lixo com os urubus. Foi a cara do governo nos últimos anos, a cara do desprezo pelo saneamento e pela pessoa humana.

Muito se falou da coleta seletiva dos resíduos domiciliares. A população se mobilizou e há anos o Plano Piloto faz a coleta seletiva nas residências, mesmo sabendo que em muitos casos o lixo separado é juntado pelos garis na hora da coleta. Este empenho da população é festejado pelas cooperativas de coleta de materiais recicláveis. Aquelas que operam nestas áreas são as mais rentáveis, pois em muitos casos fazem acordos com os síndicos que mantêm caçambas separadas para o lixo seco recolhido diretamente por elas gerando receita para os coletores e redução de impacto no meio ambiente.


O governo atual do DF comemora o fechamento do lixão da Estrutural e a construção de um novo lixão na margem da DF 180. A grande inovação ali será a impermeabilização do piso para evitar a contaminação das águas subterrâneas. O material orgânico deixará de ser tratado para fins agrícolas e será recoberto gerando gás metano que será queimado no local sem aproveitamento. E isto está sendo comemorado e alardeado como inovação.

Nada tem se falado nos rejeitos de obras que requerem amplos espaços e que causam impactos ao meio ambiente. Nada se tem dito do aproveitamento dos resíduos orgânicos para a adubação do solo e quanto ao aproveitamento dos recicláveis, que seria multiplicado com a coleta seletiva nada se tem falado. A coleta seletiva permite desdobramentos com indústrias de reciclagem e industrialização dos materiais obtidos, a exemplo do que ocorre com a fábrica de latas para cerveja e refrigerantes existente no Gama.

O saneamento é garantia de qualidade de vida para todos os habitantes. Hoje temos feito isto a custa de famílias que tiram seu sustento no lixo. É tempo de fazermos o saneamento garantindo formas dignas de vida às populações envolvidas no processo. Dias atrás em uma discussão a propósito, uma mãe de família, pertencente a uma cooperativa catadores de materiais recicláveis se justificava por levar os filhos para a coleta: “nós não temos creches para deixar as crianças. O jeito é levar com a gente”.