sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Morar Bem



Em conversa, um grupo de amigos (todos com suas necessidades básicas resolvidas), discutia sobre onde morar nos próximos tempos. Um manifestou o propósito de comprar um apartamento no Rio de Janeiro, mais precisamente no Leblon. Ele preferia morar na Av. San Martin (RJ), aquela, paralela à Delfin Moreira, mas fora da movimentação da praia. Sua escolha se deve à tranqüilidade do local e a proximidade a bons restaurantes.


O outro argumentou que se escolhesse o Rio de Janeiro, moraria em Copacabana. “Ali sim, há vida. As pessoas estão sempre dispostas a uma boa conversa”, disse. Entretanto este amigo está construindo uma casa em uma área rural, próxima a um lago e já manifestou o propósito de mudar-se para lá tão logo seja possível.

Todos nós conhecemos alguém que em determinado momento manifesta o desejo de mudar-se para uma pequena cidade onde tivesse uma boa conexão com internet e um bom acesso a assistência a saúde nas proximidades. Alguns se mudaram para Olhos D’Água (Goiás) e viveram uma experiência de vida bucólica onde tudo passa em um tempo particular, arrastado. Mas voltaram para suas moradias anteriores.

O escritor português José Saramago, que poderia morar onde quisesse, preferiu se fixar na Ilha espanhola Lanzarote no Atlântico, em uma casa fora do aglomerado urbano local, afastado do burburinho das gentes. Então, o que é morar bem? Seria sentir-se bem com o abrigo e com o meio?

Tende-se a avaliar a moradia, primeiramente pela área que ela dispõe, interna e externa. Quanto maior melhor. Isso vale também para o quintal onde se possa colocar instalações de conforto familiar, o jardim, o pomar. Vale também para a disponibilidade dos serviços públicos na vizinhança, o saneamento, baixo nível de ruído, ausência de poluição do ar e das águas etc.

A cidade grande tende a ter o custo dos terrenos aumentados em razão da procura, o que torna proibitivo para a grande maioria, viver em casas grandes com piscinas, churrasqueiras etc.

As casas e os terrenos vão diminuindo de tamanho na proporção da distância do centro, especialmente onde residem pessoas de menor renda. Com os apartamentos também ocorre algo similar. Os maiores apartamentos estão nas áreas mais valorizadas. Nas áreas periféricas eles tendem a serem menores, menos sofisticados, e de acabamento menos exigente.

Nem por isso as pessoas que residem na periferia das cidades se sentem insatisfeitas com sua moradia. Uma moradora da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, entrevistada para a televisão sobre a sua vida naquele bairro, respondeu que “nem se ganhasse um milhão na loteria se mudaria da Rocinha”.

Parece que satisfação com a moradia está ligada aos propósitos da pessoa em um momento particular. Os que têm familiares por perto se sentem ligados àqueles laços, os quais lhe dão conforto e os vinculam ao lugar. Outros constroem vínculos de amizade que justificam sua ligação a um bairro ou cidade.

Dizem que os que chegam a Brasília a detestam nos primeiros meses, até criarem os círculos de amizade no trabalho, vizinhança, na escola dos filhos, círculos culturais etc. A partir daí já não querem deixar esta cidade, que valoriza ao extremo a privacidade.

Brasília, pela diversidade de formas de organização dos espaços de moradia, com maior ou menor densidade, apresenta-se como um bom laboratório na avaliação das formas de organização que levam a um grau de satisfação com a sua moradia.