quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O adeus a Cezenildo, o amigo da Metropolitana


Ontem me ligou o Francelino, companheiro das lidas no Núcleo Bandeirante. Francelino, assim como Cezenildo, foi motorista da Administração Regional e hoje é dono de uma marmoraria ali na Placa da Mercedes, na subida para o Riacho Fundo. Francelino é daquele tipo de pessoa com o qual se pode contar em todas as horas. Calmo, comedido e amigo de todos com os quais convive.

Mas Francelino ligou para dizer que Cezenildo, o Careca, havia morrido na noite anterior e que o enterro seria na manhã seguinte, no Campo da Esperança. Morrera de um enfarto fulminante. Chegara a sua casa, estacionara o carro, acionara o freio de mão e morrera ainda com o cinto de segurança atado. Não houve sofrimento prolongado. Foi encontrado ali, no banco do carro sem expressão de dor estampada.

Careca gostava de uma cerveja, conversar com os amigos, passar a noite na farra, mas era um homem de família. Tão família que a primeira esposa convivia tranquilamente com ele e com sua segunda esposa com a qual teve seis filhos além dos quatro do primeiro matrimônio. Mas o Careca gostava de uma farra, daquelas farras inocentes de passar a noite bebendo e conversando com os amigos. Talvez seja por isso que os chegados ouviram-no dizer por várias vezes que estava vivendo no lucro, pois tinha aproveitado a vida. Pode-se dizer que era um homem feliz e realizado, apesar das poucas posses.

Enquanto conversávamos, eu reparava no aspecto geral do Campo a Esperança. Trata-se de um dos poucos lugares onde foram mantidas as árvores originais do cerrado. Vi sucupiras, caviúnas, barus e várias outras tais que ali convivem com ciprestes e outras exóticas.

Algumas questões sociais afloraram da visita. A primeira é a questão da privatização do Campo da Esperança e dos demais cemitérios do DF. Quando a administração estava a cargo da Fundação das Pioneiras Sociais, ela o fazia sem fins lucrativos e oferecia seus serviços de modo gratuito àqueles que não podiam pagar. Parece-me não ser desejável que estes serviços fiquem nas mãos da ganância e do lucro, uma vez que o governo destinou as áreas e as equipou para tal fim. O sepultamento deve ser encarado como um serviço público e não como um comercio.

A outra questão é a opção pela cremação. O ex-Governador José Aparecido de Oliveira estabeleceu como um de seus projetos prioritários a instalação de um crematório no Distrito Federal para atender aqueles que preferem tal opção. Não posso precisar se o fracasso do projeto se deu por resistências ou por inépcia daqueles que foram encarregados de implementá-lo. O certo é que aqueles que preferem esta maneira de tratar os restos mortais, são obrigados a procurar os serviços fora do DF.

Por fim, vendo ali a família do Careca reunida em volta do sepulcro, a espera do término dos trabalhos dos pedreiros, veio a minha memória, a lembrança de um pai diante do corpo da filha, pedindo a presença de um Padre que ministrasse os últimos sacramentos e conduzisse a cerimônia, pois “ela neles acreditava e gostaria que assim fosse feito”. Creio ser necessário um ritual tanto na capela quanto ao lado da sepultura que ofereça conforto aos familiares naqueles momentos de dor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aos amigos do meu irmão Cezenildo, quero agradecer todo apoio e carinho, as orações. Esses gestos de solidariedade fortalece muito nossa família. Obrigada, que Deus abençõe cada um de Vocês.Agora só nos resta SAUDADES.
Cezeney Queiroz Veloso

Anônimo disse...

Meu tio vai deixar saudades viu ....